O Zé da Lona #partiu
PDF 813
Um dia ele chegou para ajudar na administração da Lona Cultural Renato Russo, ou simplesmente Lona da Ilha. Um aparelho da prefeitura, como preferia dizer, o Marcelo. E com simplicidade chegou o Zé, com sobrenome Antonio. Cabelos brancos e compridos, corpo um tanto franzino. Ninguém sabia muito sobre sua origem e seu passado. Mas demonstrava conhecimento e segurança em suas palavras. Era simplesmente Zé ou no máximo Zé Antonio. Estava sempre disposto a ajudar tocar a administração da Lona. E como todo mais velho, tinha conhecimentos e conselhos para dar aos novos administradores.
Na Ilha (do Governador) fez amigos e parceiros; formou amigos e alunos. Tinha algumas turmas de formação em teatro. E talvez tenha feito outros estilos de turma. Conhecia todas as Lonas da cidade. Tinha conhecidos na secretaria de cultura da prefeitura. Faz um tempo que não o vejo, e por mais tempo estou afastado da Lona. Agora a Lona está cheia de buracos. Tal como a anterior, está abandonada.
Tudo indica que sua grande faculdade de conhecimento e formação do Zé foi a vida. Paralelo à vida nas ruas e nos palcos, foram os livros que leu; os artistas com quem teve contato. Em escritórios, camarins e coxias, ele fez acampamento para acordar no trabalho, para ele não tinha tempo fechado. A cada novo artista a se apresentar na Lona, ele tinha um breve histórico para contar. Fatos que presenciou e fatos que lhe chegaram. Ele vivia o mundo da arte.
Aos poucos ele foi abrindo as cortinas e contando a sua história; era escritor, artista de palco e ativista. Era um artista na vida e na arte. E com o facebook e a velocidade das informações, chega uma nota do seu falecimento. E da mesma forma de sua chegada, a nota chega sem muitas informações dos últimos dias que antecedem o fato. Mas chega com muitos comentários na postagem. Perdemos um amigo, um artista, um mito, um ídolo. Deixa lembranças e saudades.
Conheci o Zé na Lona da Ilha. E sempre imaginei o Zé interpretando um Papai Noel, um Papai Noel bem tropical. Bermuda longa na cor vermelho e camiseta regata branca, um boné vermelho. Ele gostava de bonés. Tênis vermelho e um meião branco, com uma faixa vermelha na borda; bem do seu estilo. Cabelo branco e barba branca ele já possuía. Chegaria na Lona em um skate, com uma mochila nas costas, logicamente vermelha. Distribuindo sorrisos e presentes. Mas não aconteceu tal fato.
Agora o Zé se foi. Nunca comentei com ele o citado Papai Noel. Só citaria a ideia se estivesse mais perto e pudesse cobrir os custos da produção. Na época, a direção da Lona tinha uma limitação de ideias, só pensavam no falecido Renato Russo, adoravam gente morta. Cantavam suas músicas vestidos de luto, se diziam legionários, tentavam fazer uma reforma. Tinham aversão a novas ideias.
E o Zé com seus cabelos brancos tinha uma mente aberta. Dizem os esotéricos que a brancura dos cabelos é sinal de iluminação. E agora com certeza o Zé terá seu nome lembrado em uma das salas, da Lona, tal como tem Renato Russo.
Em 15/01/2017
Entre Natal/RN e Parnamirim/RN
Nenhum comentário:
Postar um comentário